sábado, 5 de fevereiro de 2011

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    Cada uma das pesquisas visuais empreendidas por João Bosco Millen confirma o elemento nuclear de onde parte sua poética. Trata-se de dizer e redizer, abordando assim por diferentes viéses, a notória questão da contaminação nas sociedades de capitalismo avançado. Não se trata obviamente de um grito ecológico, longe disso.  Trata-se, isto sim, de uma reflexão plástica sobre o contemporâneo; afinal, o que define melhor nosso momento histórico do que a contaminação?

O universo dos travestis como o de qualquer minoria, se localiza nas franjas do establishment, este incoveniente portador dos princípios do racionalismo universalista que vem padecendo lentamente desde o fim da modernidade. Suas cores vibrantes, afetação e maneirismos refletem uma rejeição, aversão, eu diria mesmo, ao pressuposto de pureza das cosmogonias latino-germânicas (Platão, Descartes, Kant). Naquele universo, ao contrário da interioridade que rege o solipsismo cartesiano, é no mundo “de fora”, no real, que o ser emerge. As visitas de João Bosco Millen aquele universo convertem-se em poéticas de contaminação ao afirmarem que a gênese do ser ocorre na impureza do real.

Renata Camargo